sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Resenha do filme Deus e o Diabo na terra do Sol

Luisara de O. B. Otero*


Este filme foi escrito e produzido por Glauber Rocha, cineasta baiano, nascido em 14 de março de 1939 na cidade de Vitória da Conquista. Ele obteve boa educação, principalmente religiosa e conheceu o sertão baiano ao acompanhar o pai em suas viagens de trabalho, aspectos que o ajudaram na composição dos personagens e histórias de seus filmes.
Esta produção nacional, ganhadora de prêmios internacionais, é a principal representante do cinema novo, movimento cinematográfico nacional iniciado na virada dos anos 50 para os anos 60, que elaborou uma nova forma de fazer e pensar cinema. O cinema novo foi utilizado por uma geração de jovens de diversas regiões, formações e idéias, que procuravam ir de encontro à sociedade, deixando o cinema artificial dos estúdios e realizando um cinema verdade, que retratasse as questões sociais e culturais do Brasil.
Este filme foi produzido em 1964, em preto e branco e retrata uma realidade dura e difícil do sertanejo, onde a miséria convive com a ignorância.
Glauber Rocha inicia o filme dizendo: “Vou contar uma estória. Na verdade e imaginação. Abra bem os seus olhos. Pra escutar com atenção. É coisa de Deus e Diabo. Lá nos confins do sertão”. Esta frase retrata bem o conteúdo do filme, que vai mostrando no decorrer de sua história aspectos e personagens típicos do nordeste brasileiro, bem como elementos de sua cultura, como o cordel, além da dura realidade do sertanejo, que não só sofre por ser homem do campo sem direitos trabalhistas, mas também vítima do abandono das autoridades para sua realidade.
O filme conta a história de um casal sertanejo, Manoel e Rosa, representantes neste momento de todas as famílias nordestinas. Manoel é explorado por um “coronel”, dono das terras em que vive e que possui o poder político na região. A vida de Manoel é difícil e ele acredita que um pregador chamado Sebastião, homem considerado santo pelos sertanejos e que percorre aquela região pregando a palavra de Deus de acordo com sua visão distorcida e até louca da realidade. Este beato em sua jornada vai levando consigo uma multidão de sertanejos que acreditam que só Deus os ajudará nesta dura vida e que estão diante de um messias (emissário) de Deus.
Esta parte do filme mostra muito bem que o sertanejo quando não encontra nenhuma perspectiva para sua vida sofrida, acaba sendo vítima de pessoas que acreditam serem emissárias de Deus, e que se aproveitam do desespero deste povo. Mostra também o fanatismo que se desenvolve com o desespero, onde homens e mulheres deixam para traz suas vidas, seguindo um líder que exige provações, penitências e até mesmo assassinatos em nome da fé.
Além disso, o filme passa a postura dos coronéis, que representam o Estado e o poder político da região, junto com a Igreja Católica, preocupados não com a pobreza, a fome e a situação do sertanejo, mas com o poder que o beato Sebastião possui junto à população sertaneja. Para que o problema seja resolvido, usam dos serviços de um jagunço chamado Antônio das Mortes, que muito bem representa o braço armado e a força dos coronéis nordestinos, que resolviam e até hoje em determinados casos, resolvem os problemas através da força física e da bala.
Percebe-se ainda no filme, a dualidade entre os personagens que em determinados momentos são bons, representando assim Deus e em outros momentos são maus representando assim o Diabo. Os personagens possuem bondade, amor, etc., mas em decorrência dos seus sofrimentos, tornam-se capazes de matar, inclusive crianças, na luta pela sobrevivência. Podemos exemplificar primeiramente quando Manoel vive sua vida pacata e de repente mata o coronel Moraes num ato de desespero e posteriormente quando abandona a companheira, fugindo do matador; quando Rosa, que vive resignada com seu destino, mata o beato Sebastião, após ele assassinar uma criança e através do cangaceiro Corisco, bandido terrível, que aceita o casal em seu bando. Mas, o momento que melhor representa esta dualidade entre o bem e o mal, é quando Antonio das Mortes é convencido a matar homens, mulheres e crianças, além do beato, por um padre.
Existe também o sertão nordestino, como elemento importante na trama, pois faz um contraponto com as cidades, ao mostrar a imensidão do sertão, com casas dispersas nessa paisagem e com uma pequena cidade onde o comércio é feito principalmente na rua, com comida, animais, etc., expostos. Esse ambiente mostrado cria para quem não conhece essa realidade e principalmente para as pessoas das cidades, que vivem em locais baseados na modernidade, um choque enorme.
No fim, o casal Manoel e Rosa, seguem em direção ao mar, entretanto Manoel deixa Rosa no caminho e continua dirigindo-se para lá. O mar simboliza a cidade e consequentemente, uma nova vida. Simbolicamente, o casal Manoel e Rosa representam os milhares de sertanejos que abandonaram suas vidas no Nordeste, deixando suas famílias e foram para São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras cidades, em busca de uma vida digna, com trabalho, casa e alimentos, pequenas coisas para o homem da cidade, mas para o sertanejo representava o paraíso. Outro aspecto importante foi o fato do filme ser em preto e branco, como forma de enfatizar a dura vida do nordestino.
Conclui-se que este filme representou uma revolução no cinema brasileiro e que teve a sorte de ser lançado 19 dias antes da revolução de 1964. Esta revolução fez com que obras como essas fossem censuradas e consideradas subversivas e fruto de mentes “comunistas”, que tentavam passar uma imagem falsa do Brasil. Eles não foram capazes de perceber que esta obra buscava chamar a atenção da sociedade brasileira, principalmente dos políticos, para a situação do sertanejo, povo forte, que em decorrência da seca, passa por sérias privações.
È importante ressaltar que o nordestino, mesmo perdendo tudo o que possui em virtude da seca, permanece firme em sua fé, mantendo a esperança de uma vida melhor.

Referências:

1. Rocha, Glauber. Deus e o Diabo na terra do Sol. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 1964.

2. http://www.tempoglauber.com.br.
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* Aluna da Universidade Federal da Bahia, do curso de licenciatura em História, cursando a disciplina História do Brasil IV, ministrada pelo Profº Drº Antonio Fernando Guerreiro.

7 comentários:

Anônimo disse...

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Felipe disse...

Oi, sou aluno do 3° ano do ensino médio aqui no Rio Grande do sul e pesquisando sobre o filme, achei o seu texto.Achei muito bom ele pelo que ja fui lendo, é um tema muito presente em uma disciplina que eu tenho, chamada 'cultura brasileira'. Abraço :)

Murilo Wya Almeida disse...

Excelente sua resenha. Belíssima percepção. Parabéns, saúde e paz.

Murilo Wya Almeida disse...

Excelente sua resenha. Belíssima percepção. Parabéns, saúde e paz.

Nadja disse...

Essa resenha mostra a percepção aguçada e detalhista de um filme que retrata a dificuldade na realidade do sertão nordestino.Parabéns.

Unknown disse...

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